prostituição

Eu me achava uma mulher feia, acabada, que só servia pra prostituição!

Eu me achava uma mulher feia, acabada, que só servia pra prostituição!

“Quando a gente tá no mundo lá fora você começa achar que não é ninguém, que você é só uma garota de programa e que você tem que fumar, rir, beber pra ser vista e durante o dia você se tranca pra sociedade não te ver, igual morcego. Foi difícil eu reconhecer que eu tinha um talento, capacidade de vencer, eu me achava uma mulher feia, acabada, que só servia pra prostituição. Daí eu conheci um projeto que trabalha com garota de programa e Deus mudou minha vida, comecei a perceber que eu era totalmente diferente de tudo aquilo que eu imaginava, eu tinha um nome. Sozinho ninguém consegue, tem que buscar apoio, ajuda, abraços. Eu morava numa fazenda, minha mãe morreu de câncer e quando eu tinha oito anos um dos meus irmãos mais velhos me abusou. Fugi de casa e fui parar num abrigo. Depois de um tempo fui pra prostituição, encontrei uma cafetina e lá me deram banho, roupa, comida, cuidaram de mim. As meninas e eu usávamos crack, bebida e quando acabava o efeito da droga você só via lágrima escorrendo. Tem menina lá que foi estuprada pelo pai, que fez vários abortos, que o pai matou a mãe. É cada história pior que a outra. Lá eu fiquei grávida e hoje tenho três filhos. Um foi sequestrado e hoje ele tem 21 anos. Todo dia eu sonho com ele, não sei se tá vivo, se mataram, onde ele tá. Eu tinha tudo pra ser ninguém na vida, mas eu lutei e confiei em Deus. Meu sonho é sempre ir mais além. Um dia eu quero falar pra todas essas prostitutas que elas são alguém sim, que são uma jóia rara. Mulher de programa precisa de ajuda, mas o que mais a gente precisa é de amor e carinho porque pedrada tem de monte aí fora. Hoje eu sou dona do meu próprio negócio, tenho onde morar. Eu quero desejar boa sorte pra todo mundo. Nunca desista do seu sonho, você não paga nada pra sonhar.”

 

Testemunho captado pelo Rafael Carrilho através do CG Invisível em 2014

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Diagnóstico Social

Diagnóstico Social

Por Christiane Zubcov

O Projeto Nova é voltado especificamente para mulheres vítimas de violência doméstica e abuso sexual, sujeitadas ao subemprego, a informalidade e muitas vezes como única condição de sobrevivência, ainda na adolescência lançadas a prostituição, ao tráfico de drogas, dentre outras formas de trabalho que desrespeitam a dignidade da pessoa humana.

Há vários estudos que descreve o impacto a curto e longo prazo do abuso sexual. O fenômeno é considerado um fator de risco com várias consequência, tais como: a ansiedade e a depressão, queixas somáticas e problemas escolares, transtorno de estresse pós-traumático, comportamentos regressivos, autolesão, tentativa de suicídio, problemas com relacionamento sexual, prostituição e promiscuidade, abuso de substância como álcool e drogas, fenômeno da multigeracionalidade, onde existe a tendência da violência sofrida quando criança ser transmitida por meio de comportamentos desta quando adulta, aos seus filhos.

A violência que atinge essas pessoas inibe sua espontaneidade criadora (autonomia) para verem novos horizontes, sem que precisem se violentar, visto que já vivem abusos ao longo de sua história. O meio é cruel, para realização de seus sonhos de crescer e escolher sua profissão.  A deficiência causada pela violência gera dificuldades de concentração, bloqueando o desenvolvimento de novas habilidades, dificuldades de relacionamento social, e de conquistas profissionais, sentimento de culpa e vergonha. Neste ciclo, seus filhos, sobrevivem a esta desproteção desenvolvendo defesas como tornar aceitável, e normal o que está destinado a eles, estratégia esta de sobrevivência contra uma variedade de agressões.

A prostituição é a renda mais comum dentro do contexto das vítimas de violência e se tornam vulneráveis a exploração sexual, sendo reconhecida como ocupação regular, fazendo parte da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). Os profissionais do sexo podem contribuir, com a Previdência Social, tendo direito a salário-maternidade, auxílio-doença e aposentadoria. Contudo, manter estabelecimento em que ocorra exploração sexual é proibido por lei, como prevê o artigo 229 do Código Penal, ou seja, a prostituição não é ilegal, mas a exploração e o incentivo à prostituição é contrária.

Ações estão sendo desenvolvidas contribuindo para a reestruturação emocional e social, geração de renda de forma a permitir o exercício de sua cidadania, contudo, existe a necessidade de trabalhar a família como um todo.  Percebe-se uma necessidade grande de se encontrar a autoestima desejo de autoconfiança, independência, liberdade, reputação ou prestígio, reconhecimento e atenção. A frustração destas necessidades produz sentimentos de inferioridade, de fraqueza e de inutilidade.

Ao procurar combater o desemprego não basta apenas oferecer um curso de capacitação profissional e adentrar em um curso, considerando que as “deficiências intelectuais sociais” acabam por desmotivar e desistir de tentar novos caminhos. É necessário oferecer capacitação adequada e humanizada, com um fator primordial o acolhimento dos profissionais para garantir a credibilidade e consideração à mulher em situação de violência doméstica.
É certo que por meio de ações humanitárias, oportunidades e atendimento especializado é possível influenciar essas mulheres positivamente, gerando sentimentos de autoconfiança, independência e liberdade, afim de que desenvolvam sua cidadania e se estabeleçam economicamente.
Considerando o grande índice de abuso sexual e utilização de drogas e violência deste a infância, há necessidade de uma intervenção junto às crianças assistidas pelo Projeto Nova, visando à proteção e impedimento de tais situações, por meio de um processo educativo, para que as relações entre homens e mulheres sejam construídas desde cedo, bem como enfatizar os direitos e deveres na sociedade.

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