Por Evandro e Viviane Vaz
Considero providencial e urgente falar de um assunto ignorado pelo senso comum, a prostituição. A atividade de comercializar o próprio corpo é um tabu histórico carregado de ojeriza e preconceito contra os que tais coisas praticam, e essa aversão, não raro bloqueia nossa capacidade de amar os que se perderam nas trevas de seus próprios atos. A maior causa da prostituição nos tempos em que vivemos é principalmente a necessidade de dinheiro. Mas existem inúmeras questões psicológicas envolvidas que impulsionam uma pessoa a vender seu próprio corpo, tais como perfil social, histórico familiar, baixa auto-estima, dependência química, patologias, obsessão e compulsão, dentre outras. Vale acrescentar que a atividade no Brasil é legalizada, uma tendência mundial, haja vista que em outros países além de legal, é reconhecida como profissão com vários direitos assegurados. Se verificarmos o fato de que a humanidade sempre considerou a mulher como ser inferior, e que a mídia também tem seu papel fundamental em ressaltar o corpo feminino como veículo de propaganda para a venda de produtos e entretenimento, e que uma maioria se prostitui como forma de sobrevivência, já é possível entender muitas coisas. Mesmo assim não se pode negar a existência de outros fatores recorrentes, tristes e determinantes, ocultos por trás do que as pessoas geralmente imaginam. O que leva uma criança de 8 anos a acreditar que um ato sexual vale um pedaço de pão? O que haveria na mente de uma menina que sempre foi obrigada a prestar favores sexuais ao próprio pai, e descobre que pelo menos pode ganhar um sorvete com isso? O que sente uma criança que é surrada porque contou sobre um abuso sofrido? Porque ela foi chamada de vadia quando contou que o tio mexeu com ela? Talvez você não saiba, mas o abuso sexual na infância é muito comum entre a prostituição tanto masculina como feminina. Conforme a freqüência e a gravidade da situação de abuso sofrida, a reinserção social é complexa e trabalhosa, e de igual maneira, constituir família, estudar ou ter uma carreira profissional. Os antídotos para os desdobramentos sociais recorrentes da prostituição são vários, dentre eles ações governamentais que possam melhorar a realidade social daqueles que querem deixar a atividade, bem como ações sociais de incentivo a escolaridade e oportunidades de crescimento intelectual e profissional. Também, uma sociedade que tenha atitudes de aceitação para com essas pessoas portadoras de tamanho desgaste físico e emocional. Locais que proporcionem ações terapêuticas, ambientes seguros para serem ouvidos e receberem oportunidades onde um remédio especial é administrado em doses homeopáticas, o amor, uma vez que somente este pode oferecer acolhimento e aceitação. A infância outrora amputada pode ser superada, através de ações que resgatem o lado puro das coisas simples, por exemplo: oferecendo pequenas comemorações, cartões, presentes, passeios, demonstrações de afeto, coisas que resgatem a alegria infantil que se perdeu. Pequenos detalhes como a pureza de um abraço, um ombro amigo oferecido sem interesses, a presença segura de homens decentes e piedosos, incentivo de novos sonhos e ensinos, proporcionam imenso valor para aqueles que tanto sofreram com o desprezo e querem encontrar refúgio e aceitação. A morte que tão próxima rondava suas vidas poderá se transformar lentamente em alegria pela vida.
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